REFLEXÃO BÍBLICA

O evangelho das bem-aventuranças


Já se disse, com maior ou menor razão, que o Sermão da Montanha (ou o conjunto de discursos assim denominado) constitui um resumo da espiritualidade evangélica. E talvez possamos considerar o discurso mais conhecido mais bem sucedido de Jesus, as bem-aventuranças como uma síntese do sermão da montanha e dos valores espirituais que Cristo nos ensinou. E mais ainda: o próprio Cristo é uma encarnação das bem-aventuranças, que, vividas e anunciadas por ele, transformam-se nos valores espirituais de um reino que é constituído em primeiro lugar pelo próprio jesus.

As bem-aventuranças representam “a grande profecia do evangelho”, precisamente porque propõe um ideal que é inalcançável plenamente aqui  na terra mas no qual, ao mesmo tempo, podemos ir avançando e crescendo. É o ideal do “homem novo”, o homem que, revestindo-se do homem  do Evangelho, reveste-se de Cristo.

O caráter profético das bem-aventuranças acarreta a impossibilidade de serem vividas sem a presença especial do Espírito Santo, pois superam o esforça humano. Elas implicam o dom da sabedoria, o dom da fortaleza, e da delicadeza do amor que o Espírito proporciona. Por isso as bem-aventuranças são proféticas e pouco compreendidas. Por um lado, elas são dignas de admiração, inclusive entre os não crentes. Por outro lado, porém, devemos reconhecer que há um certo ceticismo ou incompreensão em relação a elas. Elas podem constituir uma pedra de escândalo e serem ridicularizadas. Entretanto, devemos recordar que as grandes exigências do evangelho são sempre suscetíveis do ridículo: o perdão das ofensas, a não violência, o celibato, a pobreza e as bem-aventuranças são sempre exigências que estão no limite do espírito do evangelho e da compreensão humana.

Mas, diante disso tudo, as bem-aventuranças permanecem como a grande mensagem de Cristo aos seus discípulos. Os próprios evangelistas ressaltam que Jesus falou aos discípulos, isto é, aqueles que de alguma forma iriam ser diferentes dos outros. Ele falou aos cristãos, que vivem o dinamismo da sua transformação em homens novos. Falou também aos discípulos que, por outro lado, desejam a perfeição evangélica e, por outro lado buscam a felicidade, como todo homem. Jesus não opõe o destino humano à perfeição evangélica. Nós estamos tão destinados á felicidade que não podemos encontrar nas exigências de Cristo, inclusive nas bem-aventuranças, certa oposição ao chamado de Deus à felicidade. Cristo fez com que as duas coisas coincidissem, prometendo o destino do evangelho para o tempo presente. As bem-aventuranças não são apenas uma promessa para a outra vida, mas uma promessa e uma luz para a vida atual. Não constituem um consolo. Não tem nada de alienante. São ao mesmo tempo escatológicas e históricas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Aqui você pode comentar às postagens